O PONTO 5G E A FAKE NEWS ANTICHINA

Giuliano M. Abbagliato
Estudante de Letras (Português/Italiano) na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), militante da Organização A Marighella – CPR (Célula UERJ) e da Ação Libertadora Estudantil (ALE)

 

É impossível começar a falar da influência imperialista na internet sem antes abordar, mesmo que de forma brevíssima, sobre o seu surgimento. Embora se esconda ou se evite, é fato que o berço da que hoje é a maior rede mundial de computadores veio dos Estados Unidos, em especial veio da Inteligência Militar desse país. Tendo inicialmente a sua matriz sediada no Pentágono, a internet era usada como meio de comunicação e espionagem durante a Guerra Fria, e a partir deste contexto convida-se a pensar sobre informação e privacidade em uma perspectiva realista, isto é, sem encantamento e em noções de realpolitik e de geopolítica.

Privacidade e espionagem formam uma dicotomia impossível de ser ignorada na conjuntura internacional, sendo um assunto indispensável dentro da internet. O simples ato de falar sobre alguma coisa próximo de seu telefone gera uma conexão imensa entre seu aparelho e as principais redes sociais e de pesquisa (google por exemplo). Neste mundo não seguro, o local menos inseguro para se navegar é na rede profunda – deep web -, um espaço costumeiramente ocupado por delinquentes virtuais, especialmente em ataques de ódio (discurso de opressões). Por tudo, a internet é um ambiente de natureza hostil e totalmente inseguro no compartilhamento de informações e de dados, criado e dirigido historicamente pelo imperialismo ianque (as principais redes sociais são desse país), e modificador para pior das relações interpessoais após a explosão massificada das redes sociais.  Mas aonde se quer chegar com isso?

Há tempo uma grande potência socialista tem-se fortalecido no horizonte geopolítico, demonstrando novamente para o mundo que a lenda liberal de que o “socialismo não dá certo” é mais uma grande farsa – fake news – imperialista. Atualmente em fase de Socialismo de Mercado, a República Popular da China, fundada pela Revolução Socialista de 1949, compete com os Estados Unidos no setor da alta tecnologia, enfrentando recentemente tentativas de embargos diversos do gigante imperialismo ianque. E é claro que essa competição tornar-se-ia política de Estado em outros países submissos ao imperialismo ianque, como infelizmente é o caso do Brasil governado por Bolsonaro.

Em meio a mais uma onda anticomunista, o Brasil foi agraciado com uma entrevista do embaixador norte-americano que foi, nada mais nada menos, uma ameaça à soberania nacional com fake news sinofóbica. A fala covarde do embaixador ianque Todd Chapman é mais uma forma de manipular as massas do país para garantir a submissão do povo brasileiro à tecnologia estadunidense. A ferramenta usada agora é a de que a chinesa Huawei, uma das maiores fornecedoras de tecnologia no mundo, deve obediência total ao governo chinês e de que todo conteúdo e informação poderia ser repassado a esse governo. É claro que o problema enraizado na nossa Nação vai muito além, nossa dependência tecnológica e nossa incapacidade de produção de serviços próprios são claramente fortes ferramentas de manipulação pelo imperialismo ianque, e este não pode perder seus apoios parasíticos. Em um país cuja maioria da população jamais teve acesso até mesmo ao 3G, o medo, gerado pela falta de informação, é a arma preferida daqueles que pregam uma falsa liberdade, uma liberdade que na verdade serve para que as massas sejam controladas e direcionadas àqueles que detém o poder há séculos.

Enquanto Todd fala sobre apoio a países que priorizam a liberdade, o Governo dos Estados Unidos segue com sua política criminosa, imperialista e genocida, financiando guerras mundo afora e promovendo embargos econômicas contra países socialistas ou simplesmente insubmissos ao império ianque (não devemos nunca esquecer o apoio do imperialismo ao movimento golpista na Venezuela nem mesmo ao cerco contra Cuba). O propagado direito de liberdade deve ser supervisionado pelo governo do gigante norte-americano, é assim que pensam e fazem, só não falam.

Ainda precisamos dar muitos passos para que o Brasil possa ser independente em seus próprios serviços, esses passos porém serão difíceis de serem dados enquanto o controle imperialista prevalecer, monitorando nossa trajetória. A Huawei, por exemplo, segue proibida de pisar em solo estadunidense, chineses seguem tendo seus vistos com restrições, e a única falha da empresa, nas palavras de Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, “é ser chinesa”. Mas no que se baseia a fala de Todd? Em nada!

O consulado da China foi fechado nos EUA e a China retaliou. O imperialismo ianque segue com uma arma conhecida pelo povo brasileiro: fake news! Enquanto espalham mentiras para bloquear o avanço da tecnologia chinesa, eles seguem não cumprindo nenhuma promessa de apoio que foi feita ao governo-fantoche de Bolsonaro. O que não nos surpreende! O Brasil não ganha nada por se submeter aos “novaiorquines”. Como Diego Pautasso, especialista em Relações Internacionais, ressalta em sua entrevista ao Sputnik Brasil:

“Huawei domina um quarto do mercado mundial de infraestrutura 5G, um padrão tecnológico que, certamente, vai pautar o novo ciclo de inovação no século XXI. E as outras duas empresas que disputam com a Huawei são a [finlandesa] Nokia e a [sueca] Ericsson. Portanto os americanos estão de fora de um dos núcleos tecnológicos que tende a emergir com muita força nas próximas décadas (…) Os Estados Unidos não estão em condição de impor tantas represálias ou, pelo menos, isso pode ter um custo. Atualmente a China representa 34% do destino das exportações brasileiras, enquanto os Estados Unidos são um pouco mais de 8%. Sendo que a China representou no ano passado 80% do nosso superávit, e com os Estados Unidos o Brasil tem apresentado déficit. Então os Estados Unidos ficam em uma posição um pouco delicada. Ademais, todas as promessas americanas até então não foram cumpridas, do ponto de vista do alinhamento do governo Bolsonaro com o governo Trump, de modo que a margem de manobra dos Estados Unidos vai ficando estreita”.

Precisa-se lembrar que o principal motor do imperialismo é a concentração do poder e sabemos que este é o osso que os ianques dificilmente irão largar, a máquina imperialista se alimenta dos pequenos para manter a sua soberania imperial e a falsa sensação de concorrência global deve ser movida, ou dirigida, apenas por eles. O mercado capitalista, movido pela concorrência, não admite que esta concorrência provenha de um país não alinhado ao império. Por isso ataca de forma covarde e discriminatória tudo que vier do socialismo chinês. Não apenas a Huawei foi atacada pelo instrumento do racismo sinofóbico, mas também o recente aplicativo TikTok que, poucos sabem, é de origem chinesa. O argumento é o mesmo: o aplicativo estaria espionando e roubando dados.

É muito mais do que uma disputa comercial, é uma disputa geopolítica! Estaríamos diante de uma segunda guerra fria? A ascensão chinesa é concreta e ameaça a hegemonia do imperialismo ianque. Hoje a China é um exemplo da poderosa capacidade de reinvenção do combate ideológico pelo Socialismo.

Neste país onde milhões de brasileiros não possuem acesso digital nem têm computadores, é evidente que o Brasil precisa se libertar do status de mero país produtor de matéria prima. O Brasil precisa do processo revolucionário da libertação nacional, etapa fundamental antes propriamente da Revolução Socialista! O Brasil precisa deixar de ser colônia!