Voz Trabalhadora: a situação dos superexplorados por aplicativos

Por Paulo Ogenom, militante da Organização A Marighella – CPR e trabalhador de aplicativo.

 

Para quem trabalha com aplicativos de tele-entrega: a Glovo que até pouco tempo anunciava que iria expandir para entregas de bicicleta, não resistiu à guerra comercial entre os grandes aplicativos do setor. A cada dia está mais acirrada essa guerra, e as multinacionais fazem de tudo para continuar no mercado, fazendo promoções de todo tipo.

Entretanto, quem é que custeia essas promoções, que de forma alguma, pagam o valor dos produtos? Aqueles que trabalham nas tele-entregas, trabalhadores que a cada dia estão recebendo menos, e muitas vezes acabam contraindo enormes dívidas por meio de: recebimento em dinheiro do valor dos produtos (gerando dívida ao trabalhador, e se não for paga antes do início da próxima semana, a conta do aplicativo é bloqueada), atrasos nas entregas (muitas vezes pelo curto espaço de tempo para entrega); problemas no processo de compra dos produtos e clientes que não confirmam a entrega do produto; pedidos cancelados que fazem você receber nada pelo seu trabalho e muitas vezes até aumentar dívidas se você já estava com o produto em mãos.

Todo o equipamento é o seu próprio meio de locomoção, e as manutenções saem do bolso dos entregadores. A única coisa necessária para ser entregador é fazer um MEI (microempreendedor individual). Com o MEI, você fica seguro quanto aos acidentes, mas você não contribui para a sua própria aposentadoria, portanto trabalha sabendo que nunca irá se aposentar. Você não tem salário base, fixo ou qualquer semelhante. Receberá por cada entrega, e se você tiver sorte de estar trabalhando no horário que surgem do nada valores pagos a mais, é nesse momento que ganhará melhor, porque só do valor das entregas o ganho normalmente é muito baixo.

Faça sol ou chuva, você se expõe a tudo em troca de um pouco de dinheiro para sobrevivência sua e de seus familiares. O capital com suas crises periódicas necessita reproduzir uma superexploração da classe trabalhadora para garantir a mais alta mais-valia aos burgueses, independentemente das crises. A conta quem paga somos nós, trabalhadores. Enganam alegando se tratar dos avanços tecnológicos, mas o real motivo dessa nova relação de trabalho (“uberizada”) é a voracidade burguesa em superexplorar desesperados trabalhadores desempregados.

A verdade é que precisam fazer os trabalhadores acreditarem que estão a se tornar empresários (“empreendedores”), numa tentativa de estimular a consciência pequeno-burguesa e o falso sonho de prosperidade individual. Em tese, um trabalhador desavisado até imagina que o seu meio de produção não esteja alienado. Afinal, a sua “bike” ou o seu “carro” são seus. Todavia, em verdade, o meio de produção desse tipo de serviço é o sistema, é o aplicativo, e ele jamais será nosso, nem brasileiro é!

O objetivo da burguesia sofisticada pelos aplicativos, assim, é destruir a organização social dos trabalhadores, fazendo os trabalharem sem organizações que defendam seus direitos. Não por acaso o UBER costuma desligar motoristas que tentam construir sindicatos ou associações de trabalhadores. E o que não falta, infelizmente, são milhões de desempregados buscando cadastro nos aplicativos. Trata-se de um projeto bem desenvolvido para a multiplicação de capitais e destruição dos direitos dos trabalhadores. 

Os aplicativos recebem diversas multas milionárias, devido ao descumprimento das leis trabalhistas. Alegam que os trabalhadores são seus clientes e não empregados. Graças ao atual governo neoliberal de Bolsonaro, está sendo mais ainda estimulado o subemprego, para que se amplie e abarque outras áreas de mão de obra. Desde o desmonte do Estado brasileiro a partir do golpe de 2016, cada dia mais trabalhadores estão se sujeitando a ter que trabalhar sem receber nenhum direito, pois ou você trabalha com toda essa humilhação ou morre por inanição, tudo isso para que a burguesia se sinta bem servida, enquanto os trabalhadores praticamente voltam ao tempo da escravidão, sem nenhum direito.

A uberização da relação capital-trabalho, travestida de avanço tecnológico e cultural, na verdade é uma poderosa ferramenta de majoração da mais-valia, de superexploração da classe trabalhadora, e de contenção de perspectivas organizacionais dos trabalhadores. E esse fenômeno é mundial.

Tá na hora da gente se organizar e aceitar outro tipo de corrida… A corrida da luta de classes contra os parasitas burgueses donos dos aplicativos!