Revista Problemas: O Partido Comunista – Vanguarda da Classe Operária (Stalin)

Este breve texto do camarada Stalin foi publicado pela primeira vez no Brasil em agosto de 1947 pela Revista Problemas, lançada justamente nesta publicação de 1947, ora uma revista mensal de cultura política dirigida pelo antigo PCB (Partido Comunista do Brasil), e à época com a edição-chefe do Comandante Carlos Marighella.

 

O Partido tem que ser, antes de tudo, o destacamento de vanguarda da classe operária. O Partido tem que incorporar em suas fileiras a todos os melhores elementos da classe operária, assimilar sua experiência, seu espírito revolucionário, sua abnegação sem limites pela causa do proletariado. Mas para ser um verdadeiro destacamento de vanguarda, o Partido tem que estar aparelhado com uma teoria revolucionária, com o conhecimento das leis do movimento, com o conhecimento das leis da revolução. Sem isto, não terá forças bastantes para dirigir a luta do proletariado, para conduzi-lo atrás de si. O Partido não pode ser o verdadeiro Partido se se limita a registrar o que vive e o que pensa a massa da classe operária, se marcha a reboque do movimento espontâneo desta, se não sabe vencer a inércia e a indiferença política do movimento espontâneo, se não é capaz de elevar-se acima dos interesses momentâneos do proletariado, se não sabe elevar as massas ao nível dos interesses de classe do proletariado. O Partido tem que marchar à frente da classe operária, tem que ver mais longe que a classe operária, tem que conduzir atrás de si o proletariado e não marchar a reboque da espontaneidade. Os partidos da Segunda Internacional, que pregam o “seguidismo”, são os portadores da política burguesa, que condena o proletariado ao papel de um instrumento posto em mãos da burguesia. Só um Partido que se coloque no ponto de vista de destacamento de vanguarda da classe operária e seja capaz de elevar-se até o nível dos interesses de classe do proletariado, só um Partido assim é capaz de afastar a classe operária do caminho do “tradeunionismo” e fazer dela uma força política independente. O Partido é o dirigente político da classe operária.

Falei mais acima das dificuldades da luta da classe operária, da complexidade das condições da luta, da estratégia e da tática, das reservas e das manobras, da ofensiva e da retirada. Estas condições são tão complexas, se não mais, quanto as condições da guerra. Quem pode se orientar nestas condições, quem pode dar uma orientação acertada às massas de milhões de proletários? Nenhum exército em guerra pode prescindir de um Estado Maior perito, se não quiser se ver condenado à derrota. Acaso não é claro que tão pouco o proletariado, e com maior razão, pode prescindir deste Estado maior, se não quiser ficar a mercê de seus inimigos jurados? Mas, qual é seu Estado Maior? Não pode ser outro senão o Partido revolucionário do proletariado. Sem um Partido revolucionário, a classe operária é como um exército sem Estado Maior. O Partido é o Estado Maior de combate do proletariado.

Mas, o Partido não pode ser apenas um destacamento de vanguarda, tem que ser, ao mesmo tempo, um destacamento da classe, uma parte da classe, intimamente ligada a esta com todas as raízes na sua existência. A diferença entre o destacamento de vanguarda e o resto da massa da classe operária, entre os membros do Partido e os sem partido, não pode desaparecer enquanto não desaparecerem as classes, enquanto o proletariado vir suas fileiras serem engrossadas com elementos procedentes de outras classes, enquanto a classe operária em seu conjunto não tiver a possibilidade de elevar-se até o nível do destacamento de vanguarda. Mas o Partido deixaria de ser tal partido se esta diferença se convertesse em uma ruptura, se se encerrasse em si mesmo e se afastasse das massas sem partido. O Partido não pode dirigir a classe se não está ligado às massas sem partido, se não existem laços de união entre o Partido e as massas sem partido, se estas massas não aceitam sua direção, se o Partido não goza de crédito moral e político entre as massas. Há algum tempo ingressaram em nosso Partido duzentos mil novos filiados operários. O que há de notável aqui é o fato de que estes operários, não só vieram por eles mesmos ao Partido, mas que foram mandados a ele por todo o resto da massa sem partido, que tomou parte ativa na admissão dos novos membros e sem cuja aprovação estes não teriam sido admitidos. Este fato demonstra que as grandes massas de operários sem partido vêem em nosso Partido o seu Partido, o Partido mais próximo e mais querido, em cujo engrandecimento e fortalecimento se acham profundamente interessados e a cuja direção confiam de bom grado a sua sorte. Desnecessário demonstrar que sem esses fios imperceptíveis que unem nosso Partido com as massas sem partido, o Partido não poderia converter-se na força decisiva de sua classe. O Partido é uma parte inseparável da classe operária.

“Nós — diz Lenin — somos partido de classe e por isso quase toda a classe (e em tempo de guerra, em épocas de guerra civil, a classe em sua totalidade) tem que atuar sob a direção de nosso Partido, deve ter com o nosso Partido o contacto mais estreito possível; mas seria manilovismo(1*) e “seguidismo” acreditar que quase toda ou toda a classe pode estar algum dia, sob o capitalismo, em condições de elevar-se ao grau de consciência e de atividade de seu destacamento de vanguarda, de seu Partido socialista. Nenhum socialista em juízo perfeito jamais pôs em dúvida que, sob o capitalismo, nem mesmo a organização sindical (mais primitiva e mais acessível ao grau de consciência das camadas menos desenvolvidas) está em condições de abranger toda ou quase toda a classe operária. Esquecer a diferença que existe entre o destacamento de vanguarda e toda a massa que marcha atrás dele, esquecer o dever constante que tem o destacamento de vanguarda de elevar camadas cada vez mais amplas a seu próprio nível avançado, não significa outra coisa senão enganar-se a si próprio, fechar os olhos à imensidade de nossas tarefas e amesquinhá-las”. (Lenin, “Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás”).