Elias Jabbour é doutor em geografia pela USP, é especialista em China, e autor da obra “China Hoje: Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado”
Respostas-padrão são voltadas a questões cuja novidade é difícil de se perceber a olho nu. Por exemplo, quando um país cresce muito e durante muito tempo, para não levar à sério a dica de Hirschman de buscar as “verdades ocultas” chama-se o caso de “milagre” e na linha seguinte fala-se com muita pinta de algo sofisticado que o crescimento foi precedido por acúmulo de poupança etc.
No caso da China tem a outra resposta-padrão. É “capitalismo de Estado“. Honestamente acho que quase todo capitalismo é de Estado. Quem não se lembra de David Ricardo fazendo um justo lobby aos industriais contra os rentiers em seu tempo? Ou o famoso e poderoso “Relatório sobre as manufaturas” de Alexander Hamilton?
Noam Chomsky sempre se refere aos EUA como um “capitalismo de Estado”. Ou seja trata-se de uma noção cada vez mais desprovida de fundo e sentido para explicar fenômenos novos e complexos. Tem historicidade e explica uma fase do capitalismo mutante. A China é a bola da vez. Mais do mesmo: “capitalismo de Estado”.
Trata-se do capitalismo de Estado mais esquisito do mundo. Algo que corrompe a “longa duração” iniciada pela Revolução Gloriosa (1688). Mas no fundo é o seguinte. Só o capitalismo pode mudar. O socialismo, não. O passo seguinte é a avenida aberta para a jaula do subjetivismo. O problema é que a classe de fenômenos no qual a China se encaixa é de etiologia difícil, pois falta um corpo teórico mais completo para sua compreensão. É um fenômeno do presente.
À nossa compreensão começar assumindo que se trata da primeira experiência de uma nova classe de formações econômico-sociais é um passo razoável. Sai do lugar-comum e das respostas-padrão. Lembram-se de Marx e sua Crítica ao Programa de Gotha?