Por João Herminio (Secretário-Geral do Centro Cultural Camarada Velho Toledo – CCCVT)
A possível indicação de “seu Jorge”, funcionário antigo do Presidente, que hoje é secretário-geral da Presidência da República, causou muita preocupação sobre “possíveis interferências políticas na Polícia Federal”.
Malandro ou bem assessorado politicamente, Bolsonaro tirou um unicórnio da AGU (Advocacia-Geral da União), com doutorado em Salamanca, para ocupar o cargo de Ministro da Justiça e da Segurança Pública. O currículo acadêmico e profissional do novo Ministro está sendo festejado pela grande imprensa e pela maioria das autoridades nacionais.
Ao mesmo tempo, no velho estilo morde e assopra, ele enfiou seu segurança particular no cargo de Diretor-Geral da Polícia Federal, cargo que é muito mais importante para ele e para sua família neste momento do que o próprio Ministério da Justiça.
Exceto por alguns barulhentos, a maioria não verá qualquer problema na indicação de um delegado da PF para o comando da PF. E de fato problema nenhum há.
O problema, pois, não está na indicação nem no indicado. O problema está no comando do governo e na definição de classe do que seja esse Estado, e do que sejam seus órgãos de repressão (polícia).
Ocorre que no fantástico mundo jurídico, e especialmente no “establishment”, somos doutrinados a conviver com unicórnios e mulas sem cabeças, como por exemplo a utopia da máxima impessoalidade da administração pública e a famigerada quimera da autonomia da Polícia Federal… Assim, quando há uma movimentação tosca e exagerada em sentido contrário, quando há uma denúncia como foi na semana passada, todos se assustam com medo dos monstros “antidemocráticos”… Como se eles nunca estivessem por perto…
Mas se o unicórnio ou a mula tiver doutorado em Salamanca, ou se for um delegado de carreira, bem, nesses casos, eles deixam de ser monstros e se tornam belos personagens do realismo fantástico da ordem democrática de direito. Nesses casos, dá até para conviver.
Nunca é demais lembrar que só quem indicou inimigo em cargo de confiança até hoje no Brasil foi o PT. E não! Isso não é um elogio ao PT! Porque se estamos assim não é por acaso.