Zilda Xavier Pereira integrou o comando da Ação Libertadora Nacional, maior organização guerrilheira do país na luta contra a ditadura militar. Seus filhos Iuri e Alex Xavier Pereira, também guerrilheiros, foram assassinados por agentes da ditadura. Zilda foi companheira de militância e de amor do Comandante Carlos Marighella.
Filha de pai ferroviário e mãe dona de casa de origem camponesa, Zilda Paula Xavier Pereira nasceu no Recife (PE) em 22 de novembro de 1925.
Em maio de 1945, recém-chegada ao Rio, Zilda incorporou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB).
O PCB foi declarado ilegal em maio de 1947, e ela adotou o nome de guerra Zélia, reverência a sua camarada Zélia Magalhães, assassinada à bala por policiais em outro maio, do ano anterior, quando participava de um protesto no Largo da Carioca.
Em 1967, Zilda, o ex-marido e os filhos acompanharam Marighella na ruptura com o PCB. A família foi pioneira da Ação Libertadora Nacional. No Rio, a ALN se estruturou em torno dos Xavier Pereira. Eram guerrilheiros empenhados nas ações armadas e na logística da ALN, Zilda, seu ex-marido, João Batista, e os filhos Iuri, Alex e Iara. Todos Xavier Pereira.
Com quem estavam os guerrilheiros Marighella e Virgílio Gomes da Silva quando compraram um Fusca para usar no assalto ao carro pagador do Instituto de Previdência do Estado da Guanabara? Com Zilda, cuja identidade na ALN era Carmem. Marighella foi visto na ação, em novembro de 1968, e acabou na capa da ”Veja”.
Depois de abril de 1964, é possível que ninguém tenha passado tanto tempo com Marighella quanto Zilda. O último ”aparelho” dos dois, no bairro carioca de Todos os Santos, jamais foi descoberto pelos beleguins da ditadura. Quem zelava pela segurança de Mariga na clandestinidade: Zilda.
A gravação da Rádio Libertadora, feita por Marighella e Iara Xavier Pereira, filha de Zilda, só sobreviveu porque Zilda a levou para o estrangeiro, onde a gravação foi anexada ao arquivo do célebre comunista Astrogildo Pereira.
No finzinho de janeiro de 1970, prenderam Zilda no Rio. Torturaram-a à exaustão, e nenhuma informação lhe arrancaram. A leitura do seu depoimento no Exército emociona até almas brutas. No futuro, ela diria que guardou seus segredos para honrar a memória de Marighella: ”Eu via o Marighella na minha frente. Pensava: ‘Carlos Marighella não é homem para ser traído, eu jamais trairei Carlos Marighella'”.
As dores nos joelhos, decorrentes do pau-de-arara, infernizaram-lhe até o fim da vida. Com ajuda de companheiros e amigos, Zilda escapou do hospital em que a haviam internado, depois da simulação de surto de insanidade. Era 1º de de maio de 1970, e ela só regressaria do exílio em 1979.
Em 4 de novembro de 1969, quando Marighella foi executado, Zilda estava em missão no exterior pela ALN. Novamente, no exterior, não pôde se despedir de seus dois filhos (Alex e Iuri), executados quase no mesmo período. Zilda sobreviveu às dores. Nunca mais pertenceu a partido algum. ”Minhas organizações foram duas, o PCB e a ALN”, costumava dizer.
De família pobre, estudou até o equivalente hoje ao quinto ano do ensino fundamental. Compensou a escassa formação com suas virtudes de inteligência, intuição e destemor. Comovido com a coragem da mãe na cadeia, Iuri lhe remeteu uma carta: ”Não nos dizemos adeus porque em verdade, estando integrados em uma luta assim, por mais distantes que estivermos, estaremos ombro a ombro sempre. E aconteça o que acontecer, todo ato que um realize será também a ação do outro […] Um beijo do companheiro-filho (filho-companheiro) à companheira-mãe (mãe-companheira)”.
A despedida física de Zilda ocorreu no dia de seu aniversário de 90 anos, em 22 de novembro de 2015.
Dirigente da Liga Feminina da Guanabara, nos idos do finado PCB, Zilda fez parte do comando nacional da Ação Libertadora Nacional ao lado de Marighella e Joaquim Câmara Ferreira.